PRATICAR SOZINHO OU COM UM INSTRUTOR - Fernando Perri
É possível aprender yoga sozinho, através de livros?
Bem, iniciemos traçando um paralelo com alguma outra atividade qualquer, como piano por exemplo, ou ainda pintura, ou talvez um esporte, digamos tênis. Seria possível aprender a jogar tênis através de um livro?
Devemos sempre levar em conta que algumas pessoas nascem já com um certo talento para esta ou aquela atividade, mas de maneira geral, acho pouco provável que uma pessoa "normal” consiga aprender sozinha, os detalhes e todas as minúcias envolvidas na arte de jogar tênis. Ousaria até mesmo dizer que, dificilmente uma pessoa sensata procuraria uma livraria ao invés de um treinador, se quisesse realmente aprender a jogar tênis.
Acredito que os livros podem realmente ajudar, como uma fonte inestimável de dados sobre as regras do jogo, a história do tênis no Brasil e no mundo, a biografia de grandes jogadores, etc, mas é preciso um treinador para: ensinar os primeiros movimentos, realizar uma preparação física adequada para o seu tipo físico, e desenvolver um programa de exercícios equilibrado para uma prática segura e saudável.
É preciso um “olhar de fora” para dizer se algo está equivocado, se os movimentos, jogadas, defesas, e demais técnicas estão melhorando com o tempo. Se o resultado for positivo, seu treinador saberá quais técnicas escolher e como reajustar seu treinamento para você continuar se desenvolvendo. Caso o resultado não seja o esperado, ele saberá o que fazer a respeito. Quais fundamentos devem ser revisados e praticados mais detalhadamente, antes de retornar à prática regular.
O que pensar sobre um jogador que diz a seu treinador : “- Eu já sei sacar, não preciso mais praticar isso. Vamos praticar outra coisa”. O que o treinador pensaria e responderia ao jogador?
No caso do yoga a idéia é a mesma. Você deve conquistar uma técnica, para conquistá-la, devemos entende-la, dominá-la, extraindo dela o máximo que seu corpo, sua mente e sua energia podem alcançar através desta técnica. Isso deve ser feito respeitando, é claro, os limites pessoas.
Imaginemos nosso jogador decidido a mudar de esporte após seis meses de aulas de tênis, e dizendo ao seu treinador que vai se dedicar à natação, afinal de contas, ele já sabe jogar tênis. Não seria uma tristeza o treinador ver seu pupilo, agora pronto para realmente jogar tênis, desfrutando o prazer proporcionado por este esporte, se afastando? Reservando alguns finais de semana por ano para um jogo despretensioso com os amigos.
Poderia ser ainda pior: O treinador, imaginando que seus alunos iriam praticar pelo menos por 2 anos, dividiu todo o conteúdo a ser ensinado ao longo dos treinos que ocorreriam neste período. Porém, nosso amigo jogador, praticou por apenas seis meses. De acordo com o programa do treinador, ele aprendeu superficialmente alguns dos fundamentos básicos como sacar e cortar. Mas, o ex-aluno diz ao treinador que continuará praticando sozinho, sempre que possível.
O que realmente nosso amigo vai praticar?
O treinador, creio eu, fica preocupado com a interrupção do programa de treinamento ainda por vir; com a inexperiência do jogador; e com a forma, às vezes equivocada, que ele continuará praticando. Afinal de contas, todos nós pensamos ser médicos, preparadores físicos, juizes de futebol, entre outras coisinhas. Além do fato de estarmos sempre em ótimo estado de saúde, e não precisarmos de um exame médico antes de iniciar uma prática esportiva. Certo?
Errado. O que nosso amigo vai continuar praticando sozinho?
Os exercícios que visam preparar corpo e articulações seriam ensinados no segundo semestre. As técnicas avançadas de defesa e contra ataque seriam praticadas no segundo ano. Como substituir a vivência adquirida em praticar com seu treinador, uma pessoa, no mínimo, mais experiente no esporte? Poderíamos continuar com este paralelo, mas parece-me que você já pode imaginar onde eu quero chegar.
No caso do yoga, não buscamos a competição, mas a evolução e o desenvolvimento completo do ser humano: Físico, energético, psicológico e intelectual.
O yoga não é apenas uma técnica para desenvolver o corpo, vai muito, além disso. Algumas das técnicas, entretanto, podem até mesmo, causar danos à sua saúde (coluna, articulações, etc.) se realizadas de maneira equivocada ou sem a devida preparação e acompanhamento; especialmente se praticadas por longos períodos e sem a orientação médica.
Para alcançar as técnicas mais avançadas (físicas ou não) não basta apenas conseguir realizá-las. É necessário ter passado, durante algum tempo, pela experiência e vivência das técnicas mais básicas. Estas visam preparar seu corpo e sua mente para receber a herança milenar que é o yoga.
Com tempo e convivência, seu instrutor saberá quais técnicas serão mais adequadas para a sua evolução pessoal, quais vivências você ainda necessita antes de praticar este ou aquele exercício; Além do mais ele saberá adaptar alguns desses exercícios para não prejudicar seu corpo ou atrasar seu desenvolvimento.
Gostaria ainda de analisar três outras questões:
1 – Existem mais de cem linhas de yoga, cada uma com um determinado repertório de técnicas, dando um maior destaque a esta ou aquela. Essas linhas possuem maneiras próprias de explicar e desenvolver as técnicas. Algumas linhas podem ainda utilizar nomes diferentes para técnicas similares.
2 - A qualidade e seriedade das publicações. Muitos livros, revistas e sites, que encontramos hoje em dia, não têm fundamentação na literatura considerada séria e tradicional do yoga.
3- A condição física para executar as técnicas, pois algumas delas tem contra indicações. Somente um profissional capacitado poderá determinar se uma determinada pessoa está ou não apta à executar uma determinada técnica. O exame médico não deve ser realizado apenas antes de iniciar a prática, mas sim freqüentemente, analisando a evolução pessoal de cada praticante.
Mas o yoga não visa à auto suficiência?
Sim. O yoga visa auto suficiência e autonomia do praticante. Após alguns anos, é possível praticar sozinho sem maiores problemas, mas é necessário ter uma visão geral do yoga, e aprender em detalhes as técnicas básicas. Isso poderia levar de 3 a 5 anos por exemplo (Depende de cada praticante, da sua dedicação, estudo, freqüência nas práticas etc).
Os livros, revistas, artigos e sites não são úteis para o estudo?
Sim! Os livros e artigos e etc. são úteis para complementar e aprofundar o estudo. Na verdade sem esse aprofundamento a prática seria superficial, e seu desenvolvimento não seria completo. Os livros são fundamentais para exemplificar a cultura, a filosofia; para trazer informações a respeito do yoga, dos estilos diferentes, dos instrutores, dos cursos, da bibliografia, da mitologia; dicas, etc. Entretanto, nada substitui a orientação dedicada e individualizada que um bom instrutor dispensa ao praticante sincero.
Concluindo:
Leia.
Estude.
Pratique!
NAMASTE